A contribuição de Walter Galvão e Odair Salgueiro para a música da Paraíba

Walter Arcela

Ontem (07/07/2021) a sociedade paraibana, especialmente da área cultural e da comunicação, entristeceu-se com a partida do jornalista, escritor e gestor Walter Galvão, em virtude de câncer nas vias biliares. 

 

Galvão passou por vários meios de imprensa, trabalhou como editor, radialista, colunista e ensaísta, sempre utilizando-se da comunicação como ferramenta para difusão do seu arcabouço intelectual. 

 

A cultura era pauta constante em seus textos. Além de ter sido cantor de conjuntos de baile, e integrante de um quarteto vocal durante a juventude, o jornalista contribuiu ativamente para o cenário musical através de escritos, pesquisas e reflexões.  

 

Autor de vários livros, destacamos aqui os relacionados ao campo musical, como “Herbert Vianna – O som diz sim” pela Editora Ideia em 2004, e ‘‘A Batalha Dos Renegados’’ de 1982  pela editora A União, livro de ensaios onde analisa os caminhos da música paraibana daquele início de década, trazendo leituras sobre os então cantores emergentes Chico César, Ivan Santos, Elba Ramalho entre outros. 

 

Lançado em 2001, o CD Poetas sem Conserto – A Música de Odair Salgueiro, Carlos Anísio e Antônio Arcela para a Oficina Literária, em homenagem póstuma ao multi-instrumentista Odair Salgueiro, que inclusive completou aniversário de falecimento na semana passada, contou com prefácio de Galvão. Texto crítico onde o jornalista discorre sobre a trajetória de Odair, músico radicado na Paraíba. 

livro A Batalha dos Renegados, 1982, editora A União.

 

A MEMUS PB resgatou esse texto que poderá ser lido a seguir, aproveitando para agradecer e celebrar a memória e as contribuições de Odair Salgueiro e Walter Galvão ao campo musical da Paraíba.

Um wagneriano na OSPB 

Encarte do disco Poetas Sem Conserto – Odair Salgueiro, Carlos Anísio e Antônio Arcela; 2001. Foto de Gustavo Moura

Walter Galvão (2001) 

O músico afirmou-se arauto, arcanjo, pastor das possibilidades e achados cromáticos. O trabalho na Orquestra Sinfônica Da Paraíba sempre revelou o instrumentista integrado e atento às causas formais do tradicional repertório clássico do conjunto sinfônico que por várias vezes integrou-se aos melhores do país. Na orquestra, o percussionista Odair dava curso ao fascínio pelo pulso da música. Em depoimento sobre as relações mais íntimas que mantinha com toda a recepção que fez dos estudos de contraponto e harmonia, disse, questionado sobre um suposto radicalismo do dodecafonismo, que não era adepto de radicalismos mas era grato a Schoenberg por ter redimensionado a presença da percussão na sintaxe da música contemporânea. 

 

Odair Salgueiro era um wagneriano devido a intensidade dramática com que abraçava o objeto musical por ele fundado, seja aquele que compunha, que recriava ou arranjava. Mas ostentava todas as possibilidades matemáticas da harmonia bachiana. No músico havia um contido sentido arquitetural que emprestava um acabamento as suas peças curtas ou mais longas, recheado por soluções plásticas (efeitos como uma sutil manipulação de glissandos trabalhados eletronicamente por um software musical para denunciar sentidos conclusivos) que tanto operavam o que Mário de Andrade classificava de ”fusão de entidades subjetivas’’, e assim compondo com a tradição formal da modernidade uma ‘‘narrativa’’ de reconhecimento automático quanto à filiação genealógica, quanto ‘‘desrealizavam’’ ritos tradicionais através da entrega à mitologia sonora dos sofisticados recursos populares. Circularidade espiralada rumo ao mar de possibilidades infinitas. Combinação permanente. Interação. Música total.