Ciclo de breves resenhas sobre músicos e músicas latino-americanas

 

 

Por Sam Cavalcanti

 

João Pessoa,

aos dezessete de fevereiro de dois mil e vinte e um

 

Memorândum exordial

 

I – O lugar da lembrança:

 

Pela perseguição de uma consolidação do autêntico sentimento de pertença, onde história e memória se entrelaçam como pilares de correlações afetivas, unimo-nos numa só energia de valoração, dos feitos pretéritos e presentes, em torno da música e dos músicos em solo paraibano. Somente se nos conhecermos é que poderemos nos reconhecer enquanto povo. As nossas práticas educacionais não nos fizeram suficientemente emancipados hoje a fim de olhar para o passado e nos orgulharmos dos protagonistas que nos identificam com o fazer artístico próprio, e bem estadual, no mesmo passo que universal. O povo paraibano – e mesmo os estudantes e estudiosos da música!… – desconhece, em grande medida, as obras e os autores que nos podem ressignificar o tempo atual. E, vários são os motivos que podem explicar esse distanciamento entre a realidade contemporânea de desconhecimento, e o cotidiano criativo desses artistas e suas referenciais obras. No caso musical, o indispensável intérprete, bem humano, bem conhecedor dessas obras, e íntimo desses universos criativos, é, se não escasso, muitíssimo pouco reconhecido profissionalmente, para que seus esforços sejam devotados a um fazer de escavação arqueo-musical, nesse propósito de trazer à tona obras em som sincero e bem realizado.

Em última instância, nossa busca hoje é por uma política de conscientização da importância-mor do cidadão em apoderar-se de seu entorno memorial. O lugar de nossa lembrança é, sem rodeios, o nosso coração: é lá, onde guardamos os nossos queridos. E, somente um esforço contínuo, resignado, coletivo e inexorável, para que cada um dos contribuintes estaduais, e todos os que aqui vivem ou vieram a viver, se vejam pelo espelho próprio da história através da moldura musical. O ritmo desse fazer, eminentemente nobre, depende do arregaçar de mangas nossas, e do convencimento de muitos, quer dirigentes estatais, quer gestores privados, para que juntemos esforços e nos enxerguemos fortes o suficiente diante desta empreitada. E que tal empreendimento seja patrono de esperança, pois como nos bem alerta o notável brasileiro Roberto Mangabeira Unger: “a ação precede a esperança”, então, ajamos, façamos, e esperemos resultados consequentes: assim nasce esta associação de homens e mulheres dispostos a lembrar!

 

II – O meu lugar no movimento de lembrança:

 

Parto do princípio que lembrar, neste sentido coletivo e sob essa missão grandiosa, é, também, aprender e apreender: porquanto revisitar, escacaviar, revirar, fuçar, e correlacionar tudo o que puder encontrar, passa por um desconhecer assumido daquele que vasculha, que vira e revira pelo avesso, todos os indícios, partindo do mais próximo de si, até ao mais distante. É assim pois, em aceitando o honroso convite para integrar o quadro de Membros Fundadores da Associação Memória Musical da Paraíba, que parto para a tarefa inicial de buscar em mim mesmo as lembranças, os meus lugares de memória, e as minhas ações pró movimento de rememoração.

Inicio com a apresentação de um breve e relevante ciclo de dezoito pequenas resenhas, que em si já são recordações, sobre músicos e músicas afeitos à cultura latino-americana, ou que com o nosso continente tenham relação. Lancei este ciclo no ano de 2013, a convite de editores do jornal lusitano Actual Sintra, que não está mais em circulação, e que, à época, era já de distribuição física bastante acessível nos arredores lisboetas (a um euro), bem como com disponibilização gratuita pela rede mundial de computadores. A série foi publicada entre 23 de janeiro e 25 de setembro daquele ano.

Para que não seja uma mera republicação, caberão pontuais acréscimos, correções editoriais, e eventuais comentários, num texto renovado na própria página do sítio eletrônico da MEMUS, com a adição de links, incluindo o próprio jornal original. Destaco dessa série nomes que são identificados diretamente com o mundo musical paraibano: a exemplo de um dos membros fundadores, Antônio Carlos Batista Pinto Coelho (o nosso Tom K), na segunda resenha da série; Eli-Eri Moura, membro honorário de nossa associação, na terceira resenha; ou ainda, o saudoso maestro José Alberto Kaplan, recordado na décima primeira resenha. A série é aberta com texto sobre obras de um cearense que estudou com Kaplan e com ele muito aprendeu…

Agradeço à presidente de nossa instituição recém-nascida, Ana Elvira Steinbach Silva Raposo Torres, por seu desprendimento em reunir esforços nessa direção, por convidar-me a contribuir, e por incentivar esta conscientização de nossos espaços de lembranças: Evoé memória!