Pernambucanas em Valsas

Pernambucanas em Valsas

 

 

 

As origens da Valsa remontam o século XVIII por meio de outro gênero dançante e ternário, o ländler, de origem germânica. Em 1824, na cosmopolita Viena, Anton Diabelli publicou um compêndio de variações a partir de um tema ternário dançante e bem marcado, com caráter de scherzo; convidando inúmeros colegas compositores para apresentarem variações sobre seu tema, era lançada uma das primeiras investidas coletivas em composição da era moderna, repleta de propaganda. Sob o título de Vaterländischer Künstlerverein, a publicação reunia nomes como Czernÿ, Schubert, Liszt e Beethoven, de quem conhecemos as 32 variações com mais popularidade até hoje. Durante o séc. XIX a Valsa se tornou uma insígnia de dança e expressão corporal pelos salões nobres, notadamente através da família austríaca Strauss. E, por outro lado, o piano apropria-se do gênero pelas mãos de Chopin e Brahms que influenciam a valsa brasileira, já não mais marcada no segundo tempo como a vienense, mas permeada de nostalgia e lirismo tal como muitas de Chopin. É sob esse clima de intimidade que as valsas-choro de Francisco Mignone ou as valsas de Misael Domingues, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth fazem os casais burgueses suspirarem pelos salões das grandes capitais. Do alagoano Misael Domingues (1857-1932) para Inaldo Moreira vemos uma permanência na tradição cancioneira da valsa quase choro, sempre melancólica e saudosa. Lançado em dois volumes entre 2008 e 2010 o álbum Valsas Pernambucanas  reúne, com exceção da valsa Tuas mãos, uma coletânea de 36 peças sob nomes próprios femininos a quem Inaldo dedica. São musicistas, amigas ou parentas do compositor, pernambucanas que refletem seu apreço pela singela e frágil figura feminina. No primeiro volume participam especialmente a jovem pianista Priscilla Dantas e a grande dama do piano pernambucano em vida, Elyanna Caldas; contudo, os esforços de revisão pianística e interpretação recaem-se não sobre uma pernambucana, mas, sobre um profícuo pianista paranaense radicado em Recife e que grava ambos os volumes. Fernando Müller soube imprimir a simplicidade de Inaldo que faz valsas quase funcionais, valsas para salões de tempos que não voltam mais.

 

                                                                                                                 

Sam Cavalcanti

Mestre em Música

João Pessoa, 18 de Fevereiro de 2013

 

Adendo para a MEMUS:

 

 

Conheci o economista aposentado Inaldo Moreira quando estive, por um pouco mais de um ano, como professor de percepção musical e como coordenador da área de teclas no Conservatório Pernambucano de Música. Inaldo foi pai orgulhoso de suas filhas gêmeas musicistas Maíra e Moema Macêdo que ingressaram na mesma época que eu naquela instituição. Conversei algumas vezes com Inaldo, e o via também quando lecionada na UFPE. Ele sempre andava devagar, era calmo, simpático e de bom-humor. Lembro também de ter conversado com Fernando Müller, meu colega de área no CPM, sobre as gravações do segundo volume e a inventividade de Inaldo que não parava de compor. Fernando possui uma habilidade admirável em ler à prima vista quase tudo que lhe dão, e gravar a obra de Inaldo não foi nada trabalhoso. Isso inspirava-o a compor mais e mais para piano ou traduzir aquilo que ele já imaginara noutros contextos, para o espírito pianístico. A tiragem desses discos foi baixa e, desafortunadamente, não temos a devida distribuição pelas plataformas, mas, para que tenhamos ilustrações audiovisuais, separei alguns links que aqui comento:

 

1 – Um chorinho dedicado à tubista Íris Vieira, professora no departamento de música da UFPB:  https://www.youtube.com/watch?v=Hl21ejhKvLc

 

II – Uma participação do próprio compositor em programa de rádio pernambucana, com destaque para suas origens musicais, o início da carreira compositiva e a sua opinião sobre gêneros em voga, como o forró, e a deturpação deste gênero: https://www.youtube.com/watch?v=ZXAbxdFmtTE

 

III – Um choro, dessa vez, dedicado a um homem, com a ilustre participação de suas exímias filhas: https://www.youtube.com/watch?v=tV985wmdK98

 

IV – O registro de uma das muitas valsas gravadas por Fernando Müller e que como esta, outras podem ser encontradas em seu canal no Youtube: 

Inaldo Moreira- Ana Beatriz (Valsa)

Inaldo Moreira- Ana Beatriz (Valsa)

 

 

 

Sam Cavalcanti

João Pessoa, aos 24 de Abril de 2023