A música instrumental de Eli-Eri Moura

A música instrumental de Eli-Eri Moura

Lançado em 2010, o álbum Eli-Eri Moura – Música Instrumental traz uma seleção de obras camerísticas, compostas num largo espaço de 25 anos. Uma grata surpresa, tanto para conhecedores próximos do Eli-eri compositor e professor, quanto para o ouvinte mais distante que o descobre pela primeira vez, esta coletânea de seis peças revela uma mente criadora eclética e um artista dicótomo: sem parecer divergentes, o compositor paraibano elege tendências mais evidentes de sua verve criativa. Seja nos gestos viris, polirrítmicos e bem marcados, tecendo texturas uniformes e rarefeitas em contraponto como em Circumsonantis, escrita em 1999 para quarteto de cordas; seja na seriedade e circunspecção de Nocturnales II, uma obra dramática e gravemente escura como sugere o título, ouvimos um compositor de senso atual e de personalidade. O disco parece estar dividido em duas partes: para cada duo de peças mais sérias, há uma dosagem de humor ligeiro. 

ELI-ERI MOURA - MÚSICA INSTRUMENTAL - Discografia Brasileira

ELI-ERI MOURA – MÚSICA INSTRUMENTAL – Discografia Brasileira

As duas obras que contrabalanceiam o disco, e que contribuem para a surpresa agradável do equilíbrio versátil na obra elieriana são Recordabilis Bach, para sexteto de saxofones, escrita no mesmo ano de Nocturnales II (2009), o que sugere uma intencional balança entre a escura noite e a clareza nostálgica que a memória de Bach nos pode remeter. Aliás, não é Bach quem trata em música de alegria e dor, luz e escuridão, morte e vida, de maneira tão exemplarmente marcante, em gerações e gerações de artistas até hoje? Recordabilis Bach, como uma recordação do velho e eterno Mestre, é uma espécie de obra didáctica, leve e despretensiosa, pronta para ser executada na mais tradicional igreja reformada. Já Nouer III, escrita um ano antes, é dramática e quase cinematograficamente “pintada” de acentos acórdicos ao piano, ou pinceladas de forte efeito ao vibrafone. Mas é na última peça, a mais antiga do álbum que nos surpreendemos com o bem humorado Eli-eri; na tradicionalíssima formação em trio (piano, violino e cello) as Variações, feitas a partir de ideia original, prendem a atenção do início ao fim, sem nenhum esforço do ouvinte que, se seguir a ordem proposta pelo disco, chega ao fim com graça e ‘gosto-de-quero-mais’. Variações, composta em 1984, remete aos gracejos de um mestre bem presente na vida de Eli-Eri e que certamente deixa saudade: José Alberto Kaplan.  

Sam Cavalcanti 

Mestre em música

Escrito em João Pessoa, em 27 de Janeiro de 2013
Publicado originalmente em Jornal Actual Sintra